Seis e quinze da manhã, acordo para mais um dia de aula, o frio e meus cortes no braço me obrigam a usar a blusa de mangas longas, ao sair de casa já no ponto visto minha mascara, uma mascara que esconde meus olhos sedentos por algo que aquele dia muito raramente me proporcionaria. Dentro do ônibus vejo as pessoas fúteis que tentam se comportar dentro de um padrão social vazio, que não os ajuda a viver e conviver entre si, e eu sem escolha tenho que vestir essa mascara que me enquadra nesse padrão.
Na escola a situação é um pouco diferente, pessoas apesar de seguir um padrão, fazem suas escolhas de grupos fúteis instituídos por uma sociedade que não tem valores morais, entrando na sala muitas vezes para ouvir o lixo que o governo manda os professores passarem, muitas vezes esses mesmos ajudam o aluno com conteúdos extras manipulados pela mídia, e outros nem capacidade para passar o lixo têm.
Os colegas fingem (ou algumas vezes, até mesmo sentem) preocupação por mim, ai vem a pior parte mentir para meus "amigos" e recolocar a mascara, olho pro lado minha mascara ainda me permite ver o nojo de coisas corpos se envolvendo no pecado carnal, muitas vezes sem o mínimo de respeito com esse instrumento tão frágil, o corpo, olho para os outros corpos ao meu redor todos se relacionando com sorrisos falsos - isso me enoja- porem mesmo assim minha mascara resiste e eu continuo fingindo.
Na hora de voltar para casa, Angela - minha única amiga - me acompanha e conversamos muito, porem ultimamente ela anda meio abatida pois seu namorado acabara de morrer em um acidente, as vezes penso se deveria ficar triste por ela, mais a morte é apenas o nada para mim.
Em casa é onde tudo piora ou melhora, fico com meu melhor amigo o tempo inteiro ( meu computador) e fazendo o que eu mais gosto (ouvindo musica e escrevendo), em casa continuo fingindo, meus "pais" tentam parecer normais, mais sempre senti algo errado, subo as escadas e chegando ao meu quarto sinto o alivio de me libertar de minha mascara. Ligo o pc e deito na cama, minha cabeça gira, eu olho para o teto e imagens estranhas me passam pela cabeça, o quanto sou indiferente, onde pela rua sem que ninguém me perceba, na escola é a mesma coisa, quando estou no ápice de minha meditação, minha mãe me chama para o almoço.
Meus pais estão mais estranhos que o normal, ficam se entre olhando e de repente minha mãe se levanta, gritando que eu deveria saber de algo, que não poderiam esconder por mais tempo, em minha mente milhões de coisas se passavam, menos essa noticia, finalmente o motivo da indiferença de meus pais sobre mim foi revelado, por isso eu era tão diferente e me sentia estranho com eles, eu era adotado. Meu pai tenta explicar, mais eu simplesmente vou para meu quarto ignorando todos, chegando la percebo, que o laço que me prendia nesse mundo tinha se soltado, e eu estava feliz com isso ao invés de triste estava aliviado, e agora eu era livre.
Foi quando pensei, "meu corpo é a única coisa que me prende nesse mundo imundo", olhei para o lado e vi minha coleção de canivetes e facas, minhas preciosidades estavam me chamando, estava saindo do quarto com a faca que eu mais amava em mãos, e eu fiz.
O mais estranho é que eu não sentia dor, sentia alivio olho para baixo meu corpo esta no chão, agora o que acontecera, um anjo vira? Acho que não, acho que ficarei aqui, para todo sempre, pelo menos agora não preciso mais vestir essa mascara isso me deixa aliviado, me faz sentir bem, me faz livre.